Os anos 80 foram uma época de efervescência cultural, inovação e crescimento econômico. Nesse cenário, a Caloi, uma das marcas de bicicletas mais renomadas do Brasil, lançou um ícone que capturou a imaginação de muitos entusiastas: a Caloi Sprint 10. Vamos fazer uma viagem no tempo e explorar o legado dessa lendária bicicleta que marcou uma geração, e conhecer a Sprint 10 que hoje está na nossa coleção.
Um Ícone dos Anos 80
Lançada na década de 1980, a Caloi Sprint 10 se destacava por seu design único e desempenho notável. Era uma bicicleta de estrada que rapidamente se tornou a preferida de ciclistas amadores e profissionais. Sua estrutura de aço era sólida e confiável, enquanto seu visual arrojado com detalhes cromados a tornava um símbolo de status na época.
Algumas informações importantes sobre a Bicicleta Caloi Sprint 10:
- Design Clássico: A Caloi Sprint 10 apresentava um design clássico e elegante, com tubos de aço cromo-molibdênio que conferiam resistência e durabilidade ao quadro.
- Sistema de Marchas: Uma das características distintivas da Sprint 10 era o seu sistema de marchas. Ela era conhecida como “caloi dez velocidades” devido às dez opções de marcha disponíveis.
- Construção Sólida: O quadro de aço cromo-molibdênio era robusto e oferecia boa absorção de choques, tornando a bicicleta confortável para longos passeios ou corridas.
- Sistema de Freios: A Sprint 10 estava equipada com um sistema de freios confiável, o que proporcionava controle seguro da velocidade e paradas precisas.
- Popularidade: A Caloi Sprint 10 rapidamente ganhou popularidade no Brasil e entre ciclistas amadores e profissionais. Era uma escolha comum para competições, treinamento e passeios de longa distância.
- Legado Duradouro: A Sprint 10 deixou um legado duradouro no ciclismo brasileiro. Muitos entusiastas de bicicletas vintage ainda valorizam essa bicicleta pela sua qualidade de construção e estética clássica.
- Influência: A Sprint 10 também influenciou o design de bicicletas de estrada posteriores e contribuiu para o crescimento da cultura do ciclismo no Brasil.
* as informações específicas podem variar dependendo do ano de produção.
A Caloi Sprint 10 da família
Parte da minha infância foi vivida entre idas e vindas para a cidade de Anápolis-GO, uma pequena cidade que fica entre Brasília e Goiânia. Lá vive a família da minha Tia Neide, irmã da minha mãe, casada com meu Tio Paulo e meus três primos: Fabiano, Renata e Adriana.
Visitá-los era sinônimo de diversão e aventuras aos montes. Aprontamos muitas coisas e aproveitamos intensamente a infância no melhor estilo oitentista. Carrinhos de rolimã, pipas, brincadeira de roda, fogueira, jogos de bola, subir em árvore, conversas em roda de noite, festinhas dançantes etc. Quem viveu esse tempo sabe como era.
Lembro que um dia eu estava de bobeira procurando alguma coisa para brincar e me divertir. Foi nessa busca que me deparei com uma bicicleta diferente que nunca tinha pedalado em uma desse tipo na vida. Não deu outra, peguei ela e atravessei a cidade de Anápolis (bom, pelo menos na minha cabeça infantil aconteceu isso quando cheguei numa área mais rural e praticamente sem prédios).
Uma curiosidade, no caminho eu parei em uma oficina e tinha um motor 318 V8 de Dodge encostado no fundo da loja. Eu já tinha o olho apurado para esse tipo de coisa e parei para perguntar sobre o motor. Estava a venda e o valor era R$ 1.000,00 com o motor completo + câmbio, uma bagatela perto dos valores de hoje.
Essa foi a minha experiência com essa bike e me marcou tão profundamente que durante a vida sempre lembrei dela em detalhes. O tempo seguiu passando e me lembro de vez ou outra subir ao sótão da casa da Tia Neide e vê-la descansado em meio a um monte de outras coisas.
O Ressurgimento
Pois bem, em um dia qualquer, estávamos conversando sobre bicicletas no grupo da família, perguntei para o meu irmão se ele topava a empreitada de revitalizar a antiga bicicleta. Para minha surpresa, ao ler a conversa, a Tia Neide me perguntou se eu não gostaria de ficar com ela.
A resposta foi: “Claro que sim!”
Eu sempre pensei que a bicicleta era do Tio Paulo, já que nos anos 80 esse tipo de bicicleta estava muito na moda. Ao encontrá-lo em Brasília fui agradecer pelo presente e ele me disse que na verdade a bicicleta era do meu primo Fabiano. Logo fui agradecê-lo e seguiu uma conversa interessante sobre a história da bike, que até então eu desconhecia.
Na verdade, ele ganhou essa bicicleta de presente do meu avô Arnóbio, provavelmente em 83 ou 84. Porém, meu primo estava interessado nas BMX, também muito famosas nessa época. O resultado foi que ele não se adaptou bem à bike por causa do tamanho e do estilo e, por isso ela foi muito pouco usada quando nova.
Reza a lenda que nos anos 90 o Tio Paulo usou ela algumas vezes, inclusive “atualizou” o guidão e o selim visando um pouco mais de conforto nos trajetos que fazia pedalando.
O dia do resgate
No dia 14 de abril de 2023 a bicicleta foi resgatada do sótão da casa da Tia Neide. Onde ficou guardada por mais de 20 anos. Recebi a foto abaixo no grupo da família. As minhas memórias da bike vieram a tona com força. A empolgação e o desejo de poder tocar nela, subir e pedalar eram enormes.
Para a minha sorte, a família de Anápolis estava indo à Brasília para uma festa na casa da minha prima Adriana e a Sprint 10 poderia vir de carona. Foi amarrada na caçamba da camionete do Fabiano.
Presente no Dia do Ciclista
Peguei a Caloi na casa da Adriana no dia 15 de abril de 2023, curiosamente, ou não, o Dia do Ciclista. Fiquei ali admirando a bicicleta, lembrando do pedal que fizemos juntos e honrando a memória do meu avô e da minha família.
Observei vários detalhes para saber o que precisava ser feito, já como um planejamento para revitalizar e devolvê-la às ruas, seu habitat natural.
Fiz algumas fotos da chegada dela em casa:
Obviamente não resisti! Não tinha como! Mesmo sabendo o quão inadequado seria pedalar de noite numa bike que estava abandonada a mais de 20 anos, resolvi fazer um breve test drive.
Calibrei os pneus, que surpreendente deram pressão mesmo estando ressacados e com câmaras de ar velhas, e fui dar uma volta. Claro que ela estava totalmente fora de forma sem lubrificação, péssimos freios, peças frouxas e totalmente desreguladas.
Rodamos 6 km com ela toda desengonçada e barulhenta, mas deu para sentir que ali tinha potencial.
Um par de dias, resolvi apertar algumas coisas, regular a altura do selim e dar uma segunda volta. Dessa vez fui acompanhado da minha filha Anna.
O processo de revitalização
Agora era fazer o que faço bem, desmontar, arrumar, limpar e montar. Fui desmontando peça por peça e avaliando o que poderia ser aproveitado e o que deveria ser trocado.
De cara, duas coisas já deveriam ser substituídas: o guidão e o selim. A ideia é deixar a Sprint 10 o mais original possível.
Rapidamente consegui um kit de guidão e manetes de freio que eram usados na Caloi 10 e Sprint 10. E o melhor, eram datados de junho e 1984, ou seja, muito próximo do ano de fabricação da bike.
Já sabia que encontrar um selim original da Caloi seria um desafio grande. Para minha sorte, um conhecido de SP estava vendendo um selim italiano antigo e muito perecido com os que saiam de fábrica nessas bicicletas. E, além disso, estava num excelente preço e muito bem conversado, quase novo.
Bom, a bike estava lubrificada com graxa automotiva marrom. Só que quem fez essa lubrificação foi extremamente exagerado nas quantidades e como ela ficou muito tempo parada, essa graxa virou quase uma cola o que fazia com que as peças tivessem muito arrasto para movimentar.
Tirar toda essa graxa foi um trabalho lento, cuidadoso e criativo, já que tive que inventar algumas maneiras de tirar a graxa e peças travadas. No fim tudo deu certo.
Uma curiosidade: algumas peças dessa Caloi, como câmbios, manetes de freio etc., tem um código que indica a data de fabricação. Ao limpá-las e ler os códigos de descobri que todas tinham sido feitas em janeiro de 1983, o mês e ano em que nasci.
Essas coincidências são simplesmente sensacionais.
Sem muitos detalhes, troquei as peças que estavam com desgaste excessivo, todos os cabos e conduítes, pastilhas de freio, corrente e o câmbio traseiro (infelizmente ele estava destruído). Outra coisa que tive que trocar foram os pedais. Coloquei uns mais modernos, porém assim que encontrar, vou colocar um par de pedais antigos.
Tudo foi lubrificado corretamente e montado com muita atenção e agora era só curtir da Caloi Sprint 10.
O resultado final
Depois de alguns meses arrumando a bike ela ficou pronta para voltar para as ruas. Pedalar uma bike dessas é, de certa forma, muito parecido com dirigir um carro antigo. Ela não responde como a minha Corratec CCT Team 105 de carbono, nem acelerando, nem freando, mas a nostalgia de um pedal lento e ritmado é incrível.
Fora a quantidade de pessoas que conversa comigo dizendo que começaram a vida de ciclista numa bike dessa ou que se lembram da infância nas ruas vazias de Brasília se divertindo com uma Caloi 10 ou Sprint 10.
É emocionante poder honrar a história da minha família nos meus pedais.
E você, já pedalou uma Caloi? Comenta aí!
Seguimos conversando,
André Monc
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